quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Contas habilidosas


Imaginem que vão a um talho para comprar umas costeletas para fazer um valente churrasco (ou barba-e-cu para os mais internacionais) com o pessoal fixe.
Ao chegar perguntam ao talhante o preço e ele diz:
"Custam 2 euros cada quilograma."

Ao que vocês pensam:
"Sim senhor, aqui está um preço que vai dar para encher o cu de carne à malta toda!"
Entretanto mandam cortar a chicha (xixa para os mais modernos) e no final o quilograma custa 5 euros e não os 2 anunciados.

Qual foi o problema?

Discutem um bocado com o talhante e ele explica.
O preço dado inicialmente - e que fazia com que fossem as costeletas mais baratas da Europa - não incluía o seu corte, o osso, a saca de plástico em que foram colocadas nem o ar (devidamente condicionado e livre de moscas) que respiraram enquanto esperavam.

Isto não vos parece normal pois não?
Não é uma maneira digamos... honesta de fazer as contas pois não?

Pois não, mas é dessa forma que a Anacom faz as contas para chegar à conclusão de que a ADSL em Portugal está muito abaixo da média da Europa... ou seja, faz a comparação de preços sem o IVA, sem o valor da assinatura mensal e sem a correcção da paridade de poder de compra.
Conseguem perceber onde ficou o osso, o ar e as moscas, não?

Já se sabe que o IVA em Portugal tem um dos valores mais altos da UE, a maior parte dos clientes ainda está dependente da PT (e do seu batráquio) e tem por isso de pagar assinatura mensal e todos sabemos que em Portugal não se ganha o mesmo que nos outros Países da UE!

Assim eu pergunto:
Para que raio serve um estudo que não tem em conta variáveis tão importantes?

E nem sequer vou entrar nas questões da cobertura de ADSL nas zonas rurais, onde se tem de pagar por serviços de 2MB quando as linhas por vezes nem 512Kb permitem, e onde a Internet móvel também não é opção, pois onde há fraca cobertura ADSL, geralmente também há fraca cobertura 3G.
Já para não falar no facto do tráfego se ilimitado em quase todas as ofertas base na UE e de não existir a aberração que é a discriminação entre tráfego "nacional" e "internacional"!

É muito fácil fazer contas de modo a tapar os olhos a muita gente, mas não é preciso ser muito esperto para perceber quando nos estão a enganar.

Deixem-se lá disso e tratem é de defender os consumidores e não quem vos dá tachos, que de "tacheiros" estamos nós fartos.

Se querem fazer estudos em condições e "à séria" façam como a Autoridade da Concorrência, cujos resultados espelham uma outra realidade ou melhor dizendo "A" realidade...

Leia mais no Público

2 comentários:

aopinto disse...

Esta foi a melhor explicação que li, sobre mais uma das aldrabices que nos coloca no topo dos paises apetecíveis e acessíveis (só para estrangeiros claro). O paralelismo estabelecido é fantástico. Parabéns! Com umas alterações à linguagem e seguia directo para muitas colunas de opinião...

Nuno Tavares disse...

É assim mesmo Ventura... Eu apoio a tua candidatura a presidência do Sindicato! :)

Abraço