terça-feira, 6 de novembro de 2007

Vida à beira de uma estrada

Acho que já é tempo de alguém falar nisto.

A sério, acho escandaloso ainda ninguém ter falado neste assunto. Pelo menos não da forma que o pretendo abordar.

Está na hora de se falar abertamente em algo que, de certo, preocupa muita gente, principalmente aqueles que andam diariamente pelas estradas do nosso 'tugal (não sei se já repararam que passei a ignorar o "Por" em tudo o que é palavra relativa a Portugal, e a substituir pela plica, ando a ver se crio uma nova moda).

É que aperta-se-me o coração de cada vez que vejo ali na beira das nacionais, com os faróis ao leu, para-choques sujeitos às intempéries, pinturas a desbotar ao sol... faça frio, faça calor lá estão. Uma lavagem às segundas e sextas e estão prontas para outra.

Por vezes lá pára um cliente, aprecia o material exposto, pergunta pelas performances, pelo desgaste, procura indícios de maus tratos ou desleixo, inquire sobre a idade e a proveniência. Avalia o exterior, tenta espreitar o interior - embora muitas vezes esteja "de portas escancaradas" e com quase tudo à mostra para melhor inspecção. Por vezes pede para ir dar uma voltinha, para ter a certeza que não vai ser enganado, que é mesmo a melhor opção entre todas as outras.

Se por fim ficar satisfeito com o que viu e sentiu, lá se começa a falar de dinheiro, de condições de financiamento - é que os tempos estão difíceis - de entregar algo à troca... e eventualmente lá se faz o negócio e seguem os dois para casa ou outro qualquer destino a que o desejo os conduza.

Isto meus amigos, são condições sem as mínimas "condições" e num País civilizado já se deveriam ter tomado medidas!

É por isso que aqui lanço um repto:

Vamos acabar com os stands de carros em segunda mão que pululam à beira das nossas estradas!

Todas as viaturas -de que é que pensavam que estava a falar?- têm direito a um local de exposição digno e ao abrigo dos elementos.

Já basta não termos dinheiro para comprar carros novos, não temos que os comprar também com a pintura e exteriores todos lixados de estar ao sol e à chuva.

E sim, os carros são as "novas" prostitutas da beira de estrada, vão-se buscar a outras zonas do País ou ao estrangeiro, e vão rodando por vários "stands", para nunca ficarem demasiado conhecidos numa determinada zona.
Fazem de tudo para que atraia a atenção e parem para ver o material que por lá está. Disfarçam as mazelas com uma borradela de tinta e um "preço especial" e tentam que não se perceba a quilometragem que já leva na bagagem...

Não é de dar pena? Não é de pedir explicações ao governo, e não só a este, como a todos os anteriores. Todos os que permitiram que ano após ano o fenómeno se alastrasse e se tornasse naquilo que hoje é. Queremos pertencer à "Grande Europa", mas a melhor maneira que se encontrou foi trazendo para cá os carros que não servem lá.
Perguntem a alguém que pense comprar carro e ele dirá que vai comprar usado. Pudera, vai comprar um carro novo, pagar impostos sobre impostos e vê-lo perder metade do seu valor assim que assina o documento de compra? Não, mais vale comprar um carro com origem desconhecida, num estado muitas vezes enganador -as estradas lá fora são melhores, os km's não se notam tanto - e que apenas contribuirá para degradar ainda mais o parque automóvel 'tuguês (viram? Lá está outra vez a plica.) e fornecer aos malucos do acelerador (99% da população lusa) máquinas com mais condições para o desastre anunciado...

Mas pronto, é este o País onde vivemos, e desde que as coisas pareçam bonitas por fora, não interessa os podres que contenham.

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