Fui ontem ver o filme de que toda a gente fala e no final fiquei sem saber bem o que pensar acerca dele...
Seria o "Pior Melhor Filme" que já tinha visto ou antes o "Melhor Pior Filme"?
Devo dizer que as minhas expectativas não eram elevadas ao dirigir-me ao Cinema, já sabia que era uma história cheia de clichés e cujo argumento se confundia bastante com o de Pocahontas e outros quantos; por isso não era por aí que havia de ficar decepcionado nem deslumbrado.
A verdade é que queria ver a tal tecnologia espantosa e a reinvenção da roda cinematográfica que tantos falavam, queria ver criaturas azuis a saltarem da tela para fora e virem sentar-se dócilmente ao colo dos espectadores deliciados pelo mundo idílico do qual aparentemente tantos se apaixonam e acabam com síndromas de depressão...
...enfim, numa palavra: queria-ver-essa-treta-do-3D-imersivo-a-funcionar-e-viver-o-filme-como-se-lá-estivesse-menos-nas-cenas-das-explosões-porque-aquilo-ainda-é-capaz-de-aleijar. (Viram como o acordo ortográfico pode ajudar nestes casos em que se prometem coisas que não se podem cumprir e depois temos mesmo de o fazer para não decepcionar os leitores?)
- "E sentiste-te mesmo lá dentro?" - perguntam vocês roendo as unhas em antecipação...
- "Mais ou menos." - Respondo eu com ar cagão de quem ainda vos vai fazer salivar durante mais um bocado, e assim melhorar as estatísticas de permanência do blogue que andam pelas ruas da amargura.
Devo confessar que houve uma altura em que tive de me desviar ligeiramente de uma árvore que apareceu vinda do nada e da qual posso quase afirmar que vinha com má cara e armada com uma faca ferrugenta ( e estas são as piores pois para além de cortar ainda podem trazer doenças tipo... Tétano... por falar nisso, há quanto tempo levaram a vossa vacina anti-tetânica? Viram? Serviço público ao mais alto nível, que classe de blogue...) pronta a me dar cabo do avatar e fazer com que saísse do caixão de imersão todo lixado na zona do baixo ventre...
Mas a partir daí foi uma navegação mais ou menos tranquila pelo resto da película.
Apesar de ter gostado da experiência, continuo a achar que "não estamos lá dentro" e que demora um pouco até começar a processar aquilo que vemos e nem sempre conseguimos focar nitidamente as imagens.
O período inicial do filme foi passado a colocar e retirar os óculos e a pensar se me estaria a sentir realmente pior sentado numa cadeira confortável e num ambiente aquecido do que se estivesse numa casca de noz ao largo, com uma ondulação de mar jeitosa e molhado até à ponta dos cabelos tentado pescar qualquer coisa só para ter uma desculpa para voltar a terra sem perder a mariscada consumida ao almoço.
Depois da "motion sickness" ter passado (sugiro que durante este período "caguem" nas legendas porque só vai piorar as coisas) comecei então a gostar mais da novidade que era para mim o 3D e a tentar não ligar muito aos pormenores que me distraíam da acção principal.
Realmente, ter uma cena em que flutuam "coisinhas" (para não spoilar quem não viu) e algumas dessas "coisinhas" parecerem estar ao alcance da nossa mão é uma clara vantagem, alguém estar a passear com uma arma, virar de direcção e essa arma parecer saltar da tela também... mas de um modo geral isso não chegou para me impressionar.
Recordo que foi "apenas" por esse tipo de experiência que fui ver o filme, e sinceramente não achei que houvesse "imersão" minha suficiente para justificar o tempo que lá estive.
É óbvio que nunca tendo ir ver outro filme 3D antes não me permite fazer uma comparação rigorosa e testemunhar o salto qualitativo que eventualmente tenha sido feito em relação aos anteriores, mas aquilo que sei é que não fiquei deslumbrado nem com vontade de ver as sequelas a menos que se decidam a investir menos em "pinquelheirices" flutuantes e contratem antes um (ou vários) argumentistas decentes.
Conclusão: Gostava de apresentar uma conclusão simples e objectiva, tipo as estrelas que dão no jornais e coisa assim, mas não posso. Não posso porque não estou qualificado para o fazer, e no país em que actualmente vivemos, se não tivermos qualificação vem a inspecção geral das actividades económicas ou a asae e fecha logo o tasco, depois porque não posso nunca aconselhar ou desaconselhar alguém a ir ver algo de que não gostei a 100% mas que reconheço já estava um pouco de pé atrás antes de ir mas mesmo assim tem méritos e acho que merece o beneficio da dúvida nem que seja só para apreciar o "estado da arte" naquilo que à tecnologia de filmes 3D diz respeito.
Prós:
- Estilo. Tentem entrar alguns momentos antes do filme começar e entenderão aquilo que quero dizer. Ver a sala inteira com óculos iguais e as lentes a brilhar no escuro é uma visão altamente recomendada. Não façam é isto ao intervalo porque depois as pessoas chateiam-se de perder parte do filme só porque vocês queriam ver os seus lindos olhos plastificados a brilhar e ainda se vêm queixar aqui e depois dá-me uma trabalheira a moderar (também conhecido por opção "delete all") todos os comentários irados de cinéfilos descontentes.
- Pessoal a desviar-se de objectos vindos da tela. Tal como disse, depois do nosso cérebro se habituar a processar as imagens convenientemente podem começar a acontecer coisas engraçadas com que está a assistir, e se eu próprio me tentei desviar, ainda que apenas ligeiramente, de uma árvore, houve um gajo à minha frente que quase mergulhava para baixo das cadeiras da fila seguinte para se desviar de uma granada... imperdível!
Contras:
- Argumento muito fraquinho, consegui ver ali muito "Pocahontas", bastante "Danças com Lobos", algum "Matrix" e um cheirinho de "Senhor dos Anéis"...
- Requer alguma habituação antes de se começar a desfrutar plenamente do filme.
quarta-feira, 13 de janeiro de 2010
Avatar, a crónica definitiva que definitivamente não aquece nem arrefece
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1 comentário:
Acho incrível ainda não haver testemunhos, até parece que ninguém foi ver este filme... ou então foram ver e têm vergonha que se saiba. Vou ser forçado a comentar porque ainda ontem um sujeito muito idiota (daqueles que gosta de falar muito alto no café e que quanto mais desinteressante for o assunto de conversa mais alto fala) dizia com um ar muito fleumático: "Avatar é, sem dúvida, o melhor filme deste ano, vai ganhar o Óscar, o Urso de Ouro, a Chanfana e os Pózinhos de Perlimpimpim (não sei se esta palavra já é contemplada no Acordo Ortográfico)...
Para não maçar os desocupados leitores que não tenham nada melhor para fazer que ler esta espécie de crítica, quero apenas asseverar que, em verdade, tiveste que te desviar daquele ramo de árvore que vinha armado em meliante, eu mesmo tive que lhe mostrar os meus caninos para ver se o assustava, sendo também verdade que o sujeito à nossa frente ia levando com uma granada na cuca.
Quanto aos tão falados efeitos espécie-de-3D, são manhosos em duas palavras:
1º- são uma forma moderna de magoar os olhos;
2º- são uma forma desonesta de enganar o cérebro (sim, porque não há 3D nenhum, o nosso cérebro é que processa essa ilusão).
Quanto ao resto, estamos mais ou menos de acordo, se bem que, para descrever o argumento, eu usaria mais vezes a palavra francesa "merdoso"...
Shbat Shalom!
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